Como o autoconhecimento pode ajudar a preservar a saúde mental?

Foto: Dylan Martines | Reuters


O autoconhecimento tem ganhado destaque desde que a ginasta norte-americana Simone Biles, 24 anos, decidiu não disputar as finais de times e individual geral de ginástica artística, nas Olimpíadas de Tóquio.


Simone era a grande favorita à medalha na sua categoria. Já conquistou mais de 30 medalhas, entre os jogos Olímpicos e Mundiais. Está próximo de escrever o seu nome na história das Olímpiadas: apenas quatro pódios a distanciam do feito histórico de se tornar a atleta mais premiada de todos os tempos.

Mas Simone decidiu que era a hora de parar e colocar a sua saúde física e mental em primeiro lugar. O autoconhecimento nos dá ferramentas que permitem identificar quando situações que vivenciamos não nos fazem bem e podem prejudicar nosso bem-estar físico e mental.

Logo no início da disputa de times, a atleta demonstrou que algo não estava bem. Conhecida por saltos perfeitos e precisos, Simone não conseguiu executar o primeiro movimento com perfeição e recebeu uma nota baixa.

“Eu tinha que fazer o que é certo para mim e não colocar em risco minha saúde e meu bem-estar. Por isso decidi dar um passo atrás e deixar [meus colegas de equipe] fazer seu trabalho”, afirmou a ginasta aos repórteres que acompanhavam a disputa.

A partir daquele momento, o mundo estava à frente de uma situação que, aos poucos, vem ganhando espaço, seja no esporte ou em outros meios: a saúde mental no topo do pódio.

Afinal, o que é autoconhecimento e por que ele é tão importante para nossa saúde mental?

“Conhece-te a ti mesmo”, a conhecida frase do filósofo grego Sócrates já nos sinaliza a importância do autoconhecimento para uma vida mais equilibrada, onde nossos comportamentos, emoções e desejos estejam alinhados.

E foi justamente nos Jogos Olímpicos, competição que teve origem no país de Sócrates, que o autoconhecimento, mais recentemente, chamou a atenção do mundo. Ao desistir de competir, a atleta Simone Biles nos traz uma lição sobre a importância de conhecer nossos sentimentos e comportamentos.

Porém, o que é o autoconhecimento? De acordo com a psicóloga e trainer Júlia Etchepare, é uma jornada que ocorre ao longo de toda a vida. Quando colocamos luz em nossos sentimentos, fica fácil perceber as potencialidades.

“Aqui na Grou temos uma frase que costumamos usar ‘o que a gente não mensura, a gente não gerencia’. Então, utilizando algumas tecnologias, é possível sair do subjetivo e conseguir tangibilizar o nosso comportamento, nossas emoções. Quanto mais a gente faz isso, mas a gente se conecta com a nossa essência, nosso objetivo de vida”, afirma a psicóloga.

Assim, o autoconhecimento é peça fundamental para a saúde mental. Isso porque, quanto mais conseguimos gerenciar nossas emoções e nomear os sentimentos, maiores são os recursos internos para identificarmos pontos de desequilíbrio, como a perda de sono, a queda na produtividade, por exemplo.

“O ponto é conseguir identificar esses gatilhos e dizer ‘opa, tô perdendo minha essência’. A Simone trouxe isso. Quando a gente perde a capacidade de brincar, de nos divertirmos nas situações e ver um sentido naquilo que a gente tá fazendo, isso é um sinal de alerta”, reforça a psicóloga Júlia Etchepare.

 

 

“Tem sido um longo ano e eu acho que
estamos muito estressados.
Deveríamos estar aqui nos divertindo.
Às vezes não é esse o caso”.

Simone Biles, ginasta norte-americana


Autoconhecimento: chave entender a performance

“Você tem que estar 100% lá”, foi o que disse Simone Biles aos repórteres após o evento. “Se não, você se machuca. Hoje foi muito estressante. Eu estava tremendo. Eu não consegui dormir. Nunca me senti assim entrando em uma competição e tentei me divertir. Mas assim que cheguei, fiquei tipo: ‘Não. Minha mente não está aqui’”

Simone decidiu interromper sua participação nas Olimpíadas de Tóquio para cuidar da sua saúde mental.
Ela entendeu que, se não estivesse 100% presente e atenta durante as disputas, poderia, além de receber notas baixas, sofrer lesões que iriam colocar em risco toda a sua história no esporte.

Nossa performance está relacionada ao autoconhecimento, pois ao conhecermos nossa essência, podemos fazer escolhas assertivas e que respeitem nossa individualidade enquanto pessoa.

Assim, com o autoconhecimento, conseguimos entender nossas potencialidades, dizer o que aceitamos ou não e desenvolver o protagonismo em nossas carreiras.

“Quando a gente está bem alocado, a gente performa melhor, a gente é feliz, é realizado. Não realizamos tanto esforço ou, se realizamos, é pouco”, explica Júlia Etchepare.

O autoconhecimento permite, além de entender quais nossas emoções, aquilo que nos motiva a seguir em frente, seja no ambiente de trabalho ou na vida pessoal. Por isso, quando o profissional realiza atividades que estejam alinhadas com o seu perfil, ele consegue desempenhar essas demandas com maestria.

Assim, cada vez mais, além do autoconhecimento, é também necessário que as lideranças nas empresas conheçam e respeitem os perfis de cada profissional. Esse movimento pode colaborar para um ambiente mais saudável e mais produtivo. 

Parar também é um ato de coragem

Antes de Simone, outra atleta também decidiu priorizar sua saúde. Em maio, a tenista japonesa Naomi Osaka se retirou do Aberto da França dizendo querer proteger sua saúde mental, uma atitude apoiada publicamente por vários esportistas, incluindo a heptatleta Katarina Johnson-Thompson e o jogador de basquete Stephen Curry.

Em entrevista, a ginasta Simone Biles, afirmou não confiar mais em si mesma e que talvez, estivesse relacionado ao fato de estar ficando mais velha. “Não somos apenas atletas. Somos pessoas, afinal de contas, e às vezes é preciso dar um passo atrás”, completou.

Carregar expectativas criadas por outros em relação às nossas carreiras e nossas vidas podem gerar um estresse gigante.

Em muitos casos, quando a pessoa não se conhece e não consegue perceber sua essência e seus sentimentos, ela segue em sofrimento para cumprir aquilo que os outros esperam que ela faça.

“É comum relacionarmos coragem e a força ao ato de ir e fazer, independente de qualquer coisa. Porém, quanto mais a gente se conhece, menos a gente se expõe e mais se protege”, explica a psicóloga e trainer Júlia Etchepare.

Perceber-se e identificar quando é a hora de parar também faz parte do autoconhecimento.  Esse movimento de voltar e reconhecer que algo não está bem e que estamos vulneráveis, ocorre quando conseguimos entender nossa essência e potencialidades.

Respeite seu processo

O processo de autoconhecimento é uma jornada para toda a vida. Passamos a vida toda buscando entender nossos sentimentos, comportamentos e tudo aquilo que nos motiva.

Colocar luz nessa escuridão pode doer, mas também ajuda a entender todo o potencial individual e aquilo que ainda pode ser aprimorado.

Coaching, leituras, meditações podem ajudar durante essa jornada. Ferramentas, como o PDA, ajudam a mapear o perfil comportamental e mensurar  potencialidades, assim como pontos que ainda precisam ser desenvolvidos. Lembre-se: respeitar o seu processo é fundamental na jornada de desenvolvimento do autoconhecimento.

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